segunda-feira, 22 de abril de 2024

Do diário

 Tomei banho e me arrumei para ir ao Shopping Eldorado pegar meu passaporte.
Durante o caminho eu consegui controlar o sentimento de tensão e ansiedade.
A Raposo Tavares estava com trânsito em um trecho, era um horário incomum para ter trânsito. Pensei que é porque havia homens trabalhando em carpir o mato que fica a beira da estrada. Mas logo a frente, havia um veículo de resgate. Era um acidente envolvendo moto. Evitei olhar o acidentado que estava dentro da ambulância. Já estavam na fase final do resgate. Só nesse mês é o segundo acidente que vejo envolvendo motos. É corriqueiro, é banal. A gente se aborrece mais com o trânsito do que com a pessoa que foi atropelada. 
Afinal, a cidade não pode parar.
Prédios se erguem em uma avenida movimentada. Me surpreende que acharam esse naco de terra para erguer mais uma construção. O mercado imobiliário vai devorando a cidade com mais e mais prédios. Qualquer espaço vale dinheiro. O transtorno que irá causar na cidade, que fiquei para os outros. Já projeto o quanto mais vai atrasar o transito, os próximos moradores que irão habitar com seus carros de luxo, tal construção.
Perto do Shopping podemos ver a hostilidade da cidade. Cidade feia, de prédios por todos os lados que tiram a visão de qualquer horizonte. Vendedores ambulantes de um lado..Lojas de carros importados de um outro. Uma mulher elegante desfila suas roupas de grifes pelo pouco asfalto que dá acesso ao estacionamento.
Um homem que dorme na rua ao lado de um carrinho de supermercado que inexiste  Opulência e miséria se convivem lado a lado, mas seus protagonistas não se misturam. Não se enxergam. E é assim que tem de ser em São Paulo.
É assim que ter de tem de ser a vida. O tempo urge, o trânsito que não flui nos deixa mais apressados. Corremos e ganhamos tempo para não chegar a lugar algum.
Só nesse curto caminho vejo duas situações que ilustram nosso caráter.
Em Osasco uma mulher atravessava a faixa de pedestre com o sinal aberto pra ela. Uma caminhonete preta não respeita e quase a atropela. A pedestre troca hostilidades com a condutora da caminhonete que gesticula hostilmente para a pedestre se sentindo na razão.
Perto do Shopping um rapaz de bicicleta na contra mão corta a rua. O taxi não o vê e quase o atropela. O cara da bike se acha no direito de reclamar. Aqui não se respeita as regras. Não se respeita a sinalização que em tese, nos definiria como civilizados. Não se respeita o ser humano que está ocupando o mesmo lugar no tempo e espaço. O ar poluído nos ofusca nossa visão. As construções de pedras e asfalto, endurecem nosso coração.
Ninguém se coloca no lugar. Ninguém baixa a cabeça pra assumir o erro. Ninguém pensa que pode estar errado. Os donos da razão desfilam sobre uma selva de pedra.


quinta-feira, 18 de abril de 2024

Do meu diário

Tenho feito contato com dores que ficam guardadas bem no fundo do corpo. Ou da alma, que repercute no corpo. As dores estão grudadas, empregadas em mim. Não se dissolvem com facilidade, não há solvente no mercado que simplesmente tire essa crosta de angústias engorduradas. Impregnadas de memórias, de passado, de traumas. Lidar com isso, ou buscar uma solução pra isso é um caminho solitário e sem norte, sem mapa, sem guia. É como andar numa noite nublada, onde se encherga apenas um palmo do caminho que está pela frente.Você segue em frente, sem saber o que está por vir, sem saber para onde vai.  Solitário porque a dor que conheço somente eu sei do contexto. Tenho medo de compartilhar algo receber respostas prontas, na maioria das vezes indiferente. Como uma mulher que é abusada e é acusada por isso. Indiferença também dói. Entre a indiferença de outrem e a minha, prefiro ficar com a minha, que já conheço muito bem. Tenho convivido com ela desde que nasci.