quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

A música

Fui convidado para uma festa de casamento, deveria ter por volta de uns 13 anos.
E é claro que eu não queria ir, porque fui convidado por educação, minha presença ali não faria a menor diferença.
Era um casamento duplo, duas irmãs casando com outros dois irmãos. Pessoas que eu conhecia apenas de vista, que já não via há mais de 8 anos.
Mas como é protocolo familiar, tive que ir pra esse casamento por obrigação e educação... o famoso, foi convidado tem de ir pra não fazer desfeita.

Igreja Santo Antônio em Osasco. Pra minha surpresa, ela tinha uma acústica legal, isso eu iria descobrir...

Antes que eu continue essa história...
Meu contato com a música sempre foi um pouco traumática. Cresci ouvindo aquelas berreiras japonesas, chamado Enka... que nada mais éh que música brega japonesa, um mal gosto....E pra piorar, vivi ouvindo isso cantado em Karaokes por velhotes que não acertavam uma nota dentro, uma desafinação monstra... mas assim, por eu ser criança, não ter muito critério, ouvia aquilo e achava normal.. quer dizer, sabia que era ruim, mas meus ouvidos não sangravam ainda.

Voltando para o casamento...
Chega a hora da cerimônia, onde as noivas iriam entrar...
O coral começa a cantar... calculo umas 20 vozes, realmente a memória me falha.
Começaram a cantar aquele trecho da Nona de Beethoven 'Hino a Alegria'.
Não tenho como explicar o que eu senti...quando eu ouvi 20 vozes cantando aquela melodia, e todas afinadas....Meu Deus!!!!
Sério, sem exageros... éh como se meu espírito se arrebentasse, partisse... o choque foi tão grande que pensei que iria deixar o corpo. Foi uma porrada na alma...
Mas como a alma não poderia sair, senti tontura e uma vontade de abrir o berreiro... não chorar, mas abrir o berreiro... estava tonto de tanta emoção.
Tive que fazer um esforço enorme para não chorar, porque fiquei com vergonha... as pessoas iriam achar que eu estaria chorando por causa da entrada das noivas... mas longe disso, aquela música... estava me dilacerando.
Segurei o choro, num esforço hercúleo... quase desmaiei.

Sim, ali descobri que eu tinha sensibilidade. Eu tinha alma...













segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Ela

Ela cortou os pulsos
Suportou as dores
Sufocou as lágrimas
e desdenhou amores

Fez do sangue batom
Beijou a minha face
Pediu-me que a abraçasse
E condoída suspirou

Bela e enfraquecida
Convulsa e ajoelhada
Desperdiçando a vida
Entre as próprias gargalhadas

Morreu triste e sorrindo
Com os olhos fechados
e as chagas se abrindo

Era um anjo lindo
Tinha os lábios despertos
e o coração ferido.